terça-feira, outubro 02, 2007

Video Games Live

Além de seu comportamento estranho, risadas estranhas, cheiro estranho e conversas estranhas, nerds são um grupo claramente desunido. Fãs da Marvel brigam com fãs da DC, admiradores de Linux menosprezam os que preferem a Microsoft e jogadores de D&D querem empalar jogadores de GURPS com uma espada longa +15. Esses, por sua vez, ficariam imensamente gratos se um dia os jogadores de Storyteller entendessem o que é um sistema de RPG REALMENTE genérico e universal.

Ninguém entra em acordo, enfim.

Isso apenas torna mais notável que a iniciativa de Tommy Talarico e Jack Wall, responsáveis pelo Video Games Live, tenha causado tamanha comoção em uma platéia tão distinta. De coroas que curtiam o clássico Donkey Kong, Pac Man e Pong durante a adolescência, com o surgimento do Telejogo e, posteriormente, do Atari, a crianças iniciadas nessa mídia tão controversa já na geração Playstation.

Durante mais de duas horas, dois mil nerds riram, urraram, ovacionaram e adoraram um objeto em comum: a Orquestra Sinphonia Villa-Lobos e seu vasto repertório de músicas de jogos de videogame, executado com maestria sob o comando do maestro Jack Wall, enquanto um telão mostrava cenas dos jogos. As exceções ficaram a cargo de uma proibição insensata da Squaresoft (atualmente Square Enix) e de Medal Of Honor. Na execução da trilha deste jogo, ambientado na segunda guerra mundial, foram exibidas imagens reais da guerra. Suficientemente duras para trazer um nó às gargantas mais sensíveis, mas sem traumatizar a molecada com pilhas de corpos e apelações semelhantes.

Excetuando-se esse breve momento de seriedade, todo o show foi em clima de brincadeira. Era difícil acreditar que se tratava de um concerto com orquestra a rigor, maestro e tudo como manda o figurino. Tommy Tallarico, extremamente simpático, ganhou o público logo no início do show, ao entrar no palco falando em português bom e claro (apenas duas frases, entretanto: "Boa noite, Brasília!" e "Aí, galera!", mas foram o bastante). Também fez a Dança do Siri, elogiou as platéias brasileiras (além de Brasília, o show foi apresentado no Rio de Janeiro e em São Paulo), tirou bandeiras do Brasil do bolso e até fez piadas com o sotaque dos cariocas.

Tallarico mostrou ser um grande amante da música de videogame, não apenas um idealizador de eventos muito visionário, ao dar espaço para apresentações de músicos nacionais. Chamou um violonista brasileiro, Lucas Vandanezi, para tocar músicas de Mario e uma banda do triângulo mineiro, a 8Bit Instrumental, para executar canções de Metroid e Street Fighter II.

Martin Leung, o famoso Videogame Pianist, mais uma vez deixou todos de boca aberta ao tocar, vendado, como em seu mais famoso vídeo na internet, algumas músicas de Super Mario Bros. Em seguida removeu a venda e executou absurdamente rápido as canções de Super Mario World. Merecidamente, foi aplaudido de pé.

Todo o show foi cheio de momentos memoráveis e mencionar todos eles tornaria o texto demasiadamente extenso. O que realmente ficou na memória, afinal, foi a simpatia de Tommy Tallarico e Jack Wall - que, como integrantes de uma banda de rock, saltaram do palco em direção à platéia no fim do show -, as belas cenas de Metal Gear, Sonic, World of Warcraft, Halo, Zelda, Civilization e etc exibidas no telão e, mais do que tudo isso, a orquestra unindo duas das coisas que eu mais gosto nessa vida: videogames e música clássica.

Admito que senti falta de God of War, mas nem isso foi o suficiente para acabar com a minha satisfação ao fim da apresentação. Ano que vem estarei lá novamente, na primeira fila. Até lá fico com os vídeos feitos por dezenas de pessoas e colocados no youtube (com o apoio de Tallarico, diga-se de passagem).

Esperemos pelo VGL 2008...

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